Obras de artes selecionadas

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Rastros e Restos

A série Rastros e Restos compreende 30 telas em tamanho 30x40cm cada que apresentam rastros da passagem do tempo inscritos em diferentes superfícies de cidades visitadas. Consistem, esses rastros, em meras insignificâncias que fazem perdurar na memória o que foi um dia ali possível: tanto o passado memorado como as existências e experiências infames, invisibilizadas e indesejadas que compõem a tessitura urbana. Impressas em papel sulfite com 10 x 15 cm, as imagens desses rastros foram coladas em telas e expandidas com camadas de tinta acrílica. Com esse trabalho a artista busca tensionar, movida pela intensidade de insignificantes restos que se apresentam no corpo das cidades, as supostas fronteiras entre fotografia e pintura, ficção e realidade, significâncias e insignificâncias, visibilidades e invisibilidades.

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Escadas

Esta série compreende até o momento 24 telas, todas em tamanho 30 x 40 cm. As camadas aquareladas de tinta acrílica imprimem, nas superfícies bidimensionais, imagens de escadas que se apresentam como memórias de lugares visitados, seja de passagem, seja em percursos cotidianos. Uma escada une um lugar a outro, conecta espaços que podem vir a se desdobrar, em um convite ao deslocamento.

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Diálogos

A partir do contato com obras de artistas de várias nacionalidades, em especial instalações, proponho nesta série uma torção na visualidade de suas propostas. Fragmentos dessas instalações são registrados com o recurso da câmera de um celular, impressos em papel sulfite, recortados e colados na superfície bidimensional de uma tela em branco. As imagens são expandidas com a adição de camadas de tinta acrílica ou à óleo que prolongam suas cores e formas. Resultam desse processo obras que possibilitam perdurar a experiência estética do encontro com as instalações, ao mesmo tempo em que tensionam fronteiras entre tradição e contemporâneo em artes visuais.


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Outros Rastros

Pequenas peças de madeira - restos de móveis carcomidos por cupins - orientam os primeiros traços que conformam os desenhos desta série, delimitando contornos que separam o dentro e o fora da imagem. Os furos de variadas dimensões produzidos pelos insetos nessas peças de madeira são também delimitadores de “dentros e foras”, os quais se apresentam no interior dos desenhos. Linhas finas seguem os traçados iniciais até o completo preenchimento das formas, produzindo um conjunto de ondulações entremeadas por desvios e geometrias que emergem no próprio processo de desenhar.


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Lama

Esta série de trabalhos emerge de minha experiência como moradora atingida pelo rompimento da lagoa de evapoinfiltração criada pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento na Lagoa da Conceição, em Florianópolis/SC. O maior desastre ambiental da cidade despejou milhões de litros de água e lama decorrentes de esgoto tratado em várias casas da região, maculou a imagem da capital catarinense, violou o ecossistema e produziu sérios danos às pessoas e seres sencientes que tiveram suas vidas violadas pelo descaso. O processo de transmutação em arte dessa experiência demandou tempo para a decantação da dor e a tradução do vivido em cores e formas que pudessem, ao mesmo tempo, lhes serem fiéis e infiéis. Fiéis porque encarnadas nos acontecimentos e nas marcas que produzem nos corpos. E infiéis porque uma tradução jamais é especular: é processo que refrata o vivido e o apresenta a partir dos restos e fragmentos de uma experiência que reverbera dores e traumas, bem como medo e insegurança. Há que se lembrar que no Brasil existem, atualmente, 22 mil barragens, segundo levantamento do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), o que dá uma dimensão dos riscos com que convivem as pessoas que habitam suas imediações. O conjunto de trabalhos, confeccionado com a lama do desastre e outros materiais, tensiona o modo como essas e tantas outras vidas vêm sendo objetificadas e colocadas em risco por desastres ambientais; também questiona a destruição de memórias significativas e, ao mesmo tempo, visibiliza resistências e possibilidades de reinvenção da existência com os cacos do vivido.

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Entre Linhas

Pequenas peças de madeira - restos de móveis carcomidos por cupins – enformam as linhas primeiras no conjunto de trabalhos que compreendem a Série Entre Linhas. Esses traços iniciais, alçados à condição de moldes, propagam-se sobre superfícies e materiais variados, em experimentações que se desdobram insistentemente. Aos rastros da destruição provocada pelos indesejados insetos se acoplam as memórias de materiais, corpos e gestos, de diferentes tempos e espaços, em composições que afirmam a própria existência em sua complexidade e inesgotável tensão.


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Transbordar

Pequenas peças de madeira - restos de móveis carcomidos por cupins - orientam os desenhos bordados com linha vermelha sobre tecido de algodão cru resgatado de antigas almofadas/encostos de sofás. A destruição provocada por indesejados insetos nos móveis que durante anos acomodaram corpos vários ganha contornos outros através das linhas vermelhas que transbordam o próprio bordar, assim como o desenhar. São memórias de corpos desejados e indesejados, de diferentes tempos e possibilidades de vida, que se inscrevem com essas linhas, fazendo perdurar seus rastros.


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Ruínas

Uma das lembranças ativas em meu corpo é a de minha mãe, irmãs e amigas modelando flores com uma pasta de açúcar. Trabalho incessante, por horas a fio, de transformação dos grãos em pasta e composição de flores-enfeites-açucarados para o bolo de casamento de uma prima. Assim como as cabeças de açúcar de Cicero Dias, as flores por elas confeccionadas preservam a tradição como ingrediente e a traição como constituinte. São alegorias que exibem as contradições edificadoras de lugares e condições sociais, de fraturas históricas perpetuadas sob camadas de sentidos que sobre elas são justapostas, uma após a outra, em um movimento incessante de apagamento de seus rastros. Na série Ruínas, o açúcar é substituído pela cerâmica; o bolo, por restos de madeiras carcomidas pela umidade e por cupins. Cada obra condensa gestos, tempos e espaços distintos, propondo conexões que interrogam o fluxo incessante de acontecimentos que nos distanciam de um olhar atento para o que nos entretece ao que nos precedeu e aos seus rastros no presente.


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Fissuras

Série de esculturas modeladas manualmente em argila, com aplicação de esmalte e queima de alta temperatura. A modelagem prioriza a forma que emerge dos blocos do material lançados em uma superfície plana, em movimentos vigorosos que conformam os vários lados da peça. Eventuais fissuras que emergem do processo são resgatadas e valoradas com a aplicação de esmalte vermelho, a contrastar com o tom cru da argila queimada. Tanto o processo como o resultado podem ser lidos como metáfora para as relações de exploração que estabelecemos com ambiente humano e inumano e os efeitos produzidos.


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Coleção de Inutensílios

Quantos objetos repousam em cantos esquecidos de prateleiras e gavetas de nossas casas? O que nos contam esses objetos de suas trajetórias, da história de seu processo de criação, de uso e descarte? O que nos contam esses objetos de nossas próprias histórias, de nossas próprias vidas, em constante processo de reinvenção? A Coleção de Inutensílios reúne alguns desses objetos. Recolhidos dos lugares de esquecimento a que foram relegados, as doações de familiares e amigos/as e meus próprios objetos compreendem uma coleção que se configura como registro de tempos vários e diversificados modos de vida. Apresentar a coleção ao público consiste em deslocamento-gesto-convite para que as pessoas possam, no encontro com esses inutensílios e tantos outros que se escondem de olhares e corpos regidos pela égide da aceleração cotidiana, da descartabilidade e efemeridade vigentes, rememorar instantes significativos de suas próprias trajetórias e construir possibilidades outras de relações com os objetos e com existências plurais.